quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pérolas da Mitologia - Amor Verdadeiro


Uma das mais belas e tristes histórias de amor da antiguidade envolve Demofonte, que ao voltar da Guerra de Tróia, parou o seu navio no pequeno reino da Trácia, onde conheceu Filis, a bela filha do rei. Eles se enamoraram no momento em que se viram. Vendo os jovens assim tão apaixonados, o rei consentiu no casamento, instituindo o futuro genro como herdeiro de seu trono. Antes do casamento, Demofonte explicou que precisava fazer uma breve visita a seu pai, em Atenas, afinal não o via há muitos anos, desde que partira para a guerra. Rogou pela compreensão de Filis, jurando por tudo que estaria de volta em quatro meses, para viver para sempre ao lado da amada.
Depois de ver a lua cheia brilhar por quatro vezes, Filis começou a contar os dias e as horas, como só os apaixonados sabem contar. Vivia junto a praia, observando o horizonte, e várias vezes se iludiu julgando ter avistado ao longe, as velas brancas do navio de Demofonte. Ele não aparecia e ela inventava mil desculpas para sua demora: talvez o pai o tivesse retido por mais tempo ao seu lado, ou algo de ruim tivesse acontecido no caminho - e ficava arrependida só de pensar nisso. Então corria a pedir aos deuses que o protegessem. Mas, na medida em que o tempo passava em branco, suas esperanças diminuíam, e, aos poucos, começou a ser dominada pelos fantasmas de sempre: talvez tinha sido enganada por palavras doces, seduzida e abandonada! Eram falsas as juras dele, como eram falsas as lágrimas que ele tinha derramado ao partir. Talvez nem, se lembrasse mais dela e, a essa hora, poderia ter encontrado outro amor e até já estar casado.
Tomada pelo desespero, não suportou mais o sofrimento e resolveu se enforcar, e assim teria feito, se os deuses, apiedando-se dela, não a tivessem transformado numa triste amendoeira. Quando Demofonte, que se atrasou contra sua vontade, finalmente regressou três meses mais tarde, só lhe restou abraçar-se a árvore, reafirmando entre soluços, o amor que sentia por Fílis. Nesse instante a amoreira ficou coberta por delicadas flores, que deviam estar ali, aguardando apenas que um abraço apaixonado como aquele lhe desse a força e a seiva de que precisavam para desabrocharem.

Afinal, esse é o grande prodígio de um amor verdadeiro: ele nos torna mais vivos e mais floridos, ele nos devolve qualidades que julgávamos ter perdido e nos faz descobrir, com surpresa, que tínhamos outras qualidades de que sequer suspeitávamos.

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