sábado, 22 de agosto de 2009

Pérolas da Mitologia - Corpo e Alma

(Eros e Psique - Casanova, Museu do Louvre, Paris)
Mesmo aqueles que não acreditam nesse indefinível sentimento que é o amor, não poderão deixar de apreciar a magnífica obra de Antonio Casanova denominada "Eros desperta Psiqué com um beijo". Aquele artista soube extrair da pedra fria, com rara maestria, um daqueles raros momentos em que o tema se encontra com a forma e a intenção, para criar uma obra que jamais nos deixará indiferentes.
O escultor acertou ao escolher um mito como motivo, agradando assim a gregos e troianos, e, além disso, também cativou aos que vêem no amor uma realidade mais profunda, que não se deixa capturar pelas malhas da razão. Segundo, porque acertou igualmente escolhendo tal mito, que narra os encontros e desencontros e até o final feliz - coisa tão rara - de dois encantadores personagens: Eros, o deus do amor, filho de Afrodite, e Psiqué, belíssima princesa, cujo nome também significa alma (não por acaso) na língua grega.
Os dois casam secretamente e vivem felizes, mas o deus só vem encontrá-la depois que as luzes se apagam, pois ela não podia saber quem ele era.Psiqué concordou com isso, mas, certa noite, vencida pela curiosidade, espera que ele adormeça e acende uma vela. Maravilhada com o que descobriu, deixa cair uma gota de cera quente no ombro dele. Ela rompeu o trato e Eros, magoado, se afasta, disposto a não vê-la nunca mais. Psiqué arrependida, vaga pelos caminhos procurando em vão encontrá-lo. Temendo que pudesse encontrar Eros, Afrodite atraiu a princesa para uma armadilha que a prostrou num sono mortal. Foi quando os deuses, que viam o casal com simpatia, avisaram Eros do acontecido. Então Eros desceu até onde ela estava e a despertou com um beijo salvador.

Foi essa a cena que o cinzel do escultor eternizou em mármore: Eros, com as asas ainda abertas, parece ter descido do céu naquele instante,, enquanto Psiqué, de olhos cerrados, enlaça-o com delicadeza e ergue o rosto para oferecer-lhe os lábios. Os corpos são magistralmente modelados de sorte a não permitir que nosso olhar se afaste das duas cabeças que se aproximam,naquele momento culminante de todas as histórias de amor, em que as duas bocas estão a ponto de se unirem. O artista conseguiu fixar toda a magia do beijo, ao mesmo tempo em que põem em contato o corpo e alma de duas pessoas, permitindo que elas troquem entre si a ternura, o desejo e a paixão que sentem reciprocamente. Às vezes, a tudo isso ainda vem se somar o amor, algo que não sabemos definir, mas que sabemos reconhecer quando aparece - ou quando simplesmente se acaba.

Nenhum comentário: